Agenda Cultural
Exposição
Antiga Sala do Capítulo
de | Sábado 19 Outubro, 2024 até | Terça-Feira 10 Dezembro, 2024 15h00
Entrada gratuita
Abertura ao público dia 19 de outubro, às 17h00.
Quarta a segunda | 15h00 às 20h00 (última entrada às 19h30)
© Ana Vidigal
© Ana Vidigal
Apresentação da obra de Ana Vidigal "Como é Antigo o Passado Recente”
Entre abril e junho de 2022 a artista Ana Vidigal (Lisboa, 1960) apresentou no Convento São Francisco a instalação inédita "Como é antigo o passado recente”.
Em "Como é antigo o passado recente” Ana Vidigal trabalha sobre a Memória e o Tempo, temáticas muito presentes na obra da artista. Como escreveu o curador Hugo Dinis na folha de sala da exposição: "Ocupando a totalidade das paredes do espaço expositivo com a ampliação de imagens do seu arquivo pessoal, a artista questiona os acontecimentos presentes à luz de um passado histórico recente”.
Pensada para a Sala do Capítulo do Convento São Francisco, a instalação "Como é antigo o passado presente” foi doada por Ana Vidigal passando, assim, a integrar o Património Artístico do Município de Coimbra.
Ana Vidigal é uma das artistas portuguesas mais reconhecidas da sua geração, com um percurso relevante na cena artística contemporânea portuguesa e internacional. A integração da obra "Como é antigo o passado recente” no espólio do Município de Coimbra é de grande relevância e representa o enriquecimento da sua coleção de arte contemporânea.
A doação de "Como é antigo o passado recente” de Ana Vidigal será apresentada publicamente no dia 19 de outubro. Com início às 17h00, o programa da sessão inclui uma conversa da artista com o público. A instalação poderá ser novamente visitada na Sala do Capítulo do Convento São Francisco até dia 10 de dezembro.
Como é Antigo o Passado Recente
Nem precisavam de dizer que gostariam que eu trabalhasse sobre a memória.
O meu trabalho sempre foi debruçar-me sobre aquilo que não me pertence, uma espécie de roubo autorizado, pois na maior parte das vezes é consentido por quem, generosamente me confia a sua identidade como se se tratasse de uma caixa de chocolates, onde na minha intimidade, me lambuzo e me reconstruo.
Por isso ao ver a sala do Convento São Francisco em Coimbra que me foi destinada, imaginei-me dentro de uma das minhas caixas de memórias alheias, submersa em centenas de papeis vegetais grosseiramente dobrados, mas delicadamente desenhados a lápis por uma das minhas avós, a materna, com os elementos decorativos que me aconchegaram a infância dourada e a conturbada adolescência, nos lençóis da minha cama de solteira.
Sabia que "essa caixa gigante” serie a base para como sempre, "espelhar” o momento. Eu pinto sobre o Tempo, e este seria um Tempo de perdas pessoais e de solidões acompanhadas, de análise de felicidades fugazes, como que tomando consciência que tinha entrado no mês de setembro da minha existência.
Elaborei um projeto, onde nas paredes dessa caixa, "seria sempre meia noite no lugar de alguém”, aquela estranha hora em que nos equilibramos entre o que já passou e o que vamos passar.
Utilizaria para isso uma coleção de fotonovelas de Corín Tellado oferecida pelo Nuno Nunes-Ferreira, manipulando esquadrias, imagens, textos e como sempre a alienação da escala.
Tudo parecia composto.
Tenho insónias.
E a 24 de fevereiro a guerra na Ucrânia começou às 3h30. Eu estava acordada e já tinha vivido a Guerra Fria e a carnificina na ex-Jugoslávia.
E assim com o horror visível em todos os écrans percebi que o Tempo que escolhera para "encher” a caixa tinha de ser outro, porque o Tempo era outro, tinha mudado num segundo. Seria mais... o que irá acontecer na meia noite do dia seguinte, se ainda se puder dizer que vai haver um dia seguinte.
Eu vivencio um Tempo infinito, um descalabro de valores amparado pelo horror do sofrimento.
Esta exposição, "Como é Antigo o Passado Recente” é sobre este tempo.
Susan Sontag poderia ser minha mãe. Ambas nasceram em 1933.
Eu, continuo a ler a Vogue Magazine, The World of Interiors, mas sei que estou a "Olhar o Sofrimento dos Outros”. De longe como todo o mundo ocidental.
E é isto, de momento.
Ana Vidigal
12 de março de 2022
"A artista Ana Vidigal (Lisboa, 1960) apresenta a surpreendente instalação "Como é Antigo o Passado Recente”, no Convento São Francisco, entre 23 de abril e 26 de junho de 2022. Ocupando todas as paredes do espaço expositivo com a ampliação de imagens do seu arquivo pessoal, a artista questiona os acontecimentos presentes à luz de um passado histórico recente. Ao amplificar a imagética doméstica – fotografias familiares, desenhos de bordados, banda-desenhada, recortes de revistas, entre outras imagens – como se de uma fotonovela se tratasse, a instalação imersiva "Como é Antigo o Passado Recente” amplia o horror da guerra e das pessoas que dela sofrem. Em Olhando o sofrimento dos outros (2003) Susan Sontag escreveu que "As guerras são agora também imagens e sons de sala de estar.” Através da proliferação das fotografias e vídeos de guerra e a sua fácil acessibilidade, a inquietante obra de Ana Vidigal confronta o espectador e instiga-o a tomar uma posição e a sair da neutralidade, onde a empatia será, porventura, o único lugar possível”.
Hugo Dinis
Ana Vidigal
Nasceu em Lisboa em 1960.
Expõe individualmente desde 1981.
Licenciatura ESBAL 1984.
Bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian 1985-87.
Pintora residente do Museu de Arte Contemporânea do Funchal 1998-99.
Em 1995 e em 2002 foi convidada pelo Metropolitano de Lisboa para a execução de painéis de azulejos para as estacões de Alvalade e de Alfornelos (construída).
Representa Portugal na Bienal de Sharjha em 2009.
Realiza a sua primeira exposição antológica, na Fundação Calouste Gulbenkian em 2010 intitulada Menina Limpa, Menina Suja, com curadoria de Isabel Carlos.
Classificação Etária
Todos os públicos
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