Agenda Cultural

"A Sagração da Primavera”, a peça ideal para ser reinventada.

Criada em 1913 para o "Ballets Russes”, companhia do influente produtor e empresário russo Sergei Diaghilev, "A Sagração da Primavera” estreou em Paris com música composta por Ígor Stravinsky e coreografia original de Vaslav Nijinsky. Revelou-se um marco na História da Arte do século XX (para além da dança), produto de influências de várias obras de arte, e é considerada um exemplo ideal de cooperação e diálogo entre diferentes disciplinas artísticas. Desde então, a obra foi revivida e recriada inúmeras vezes, sendo a versão de Leonide Massine de 1920 a primeira de uma longa lista. Houve notáveis adaptações, nomeadamente de Lester Horton, Mary Wigman Maurice Béjart ou Pina Bausch para citar apenas alguns nomes do Ocidente inspirados por este trabalho. Em todo o mundo - incluindo a China - houve novas adaptações deste inspirador trabalho. Como tal, esta peça presta-se particularmente a ser recriada, reinventada e enriquecida através da reinterpretação. Foi particularmente fascinante para o coreógrafo Daniel Cardoso tentar debruçar-se sobre os temas da "adaptação", "apropriação", "cópia" e "homenagem", em colaboração com artistas chineses. 

A China, muitas vezes chamada de "fábrica do mundo” é conhecida por produzir "a cópia perfeita” de produtos inventados no Ocidente. No entanto, à medida que esta peça foi criada, o Quorum Ballet procurou criar uma versão que combinasse harmoniosamente as visões do Ocidente e do Oriente. Esta Sagração da Primavera está imbuída de aspetos da cultura chinesa que aprofundam e ampliam as perspetivas humanas e a profundidade que a peça explora. Foi "fabricada na China” e, como tal, colorida pela cultura e talento Chineses. 

O Quorum Ballet, seguindo a tradição secular portuguesa de dar a volta ao mundo, viajou até à China e para esta produção trouxe consigo no peito referências, influências, expectativas, saberes e história. Esta peça revela a encruzilhada das nossas histórias e as dos artistas chineses que encontrámos e com quem trabalhámos. Esta emocionante jornada e encontro forneceu a centelha criativa para o nosso trabalho. "O valor das coisas não está no tempo que duram, mas na intensidade com que ocorrem. Por isso existem momentos inesquecíveis e pessoas únicas!” Fernando Pessoa 

A nossa performance, tal como a produção original para o "Ballets Russe” procura romper com a tradição – sendo a tradição aqui a peça musical de Stravinsky e a coreografia de Nijinsky. "A Sagração da Primavera” será o território onde Portugal e China - artistas portugueses e chineses - se irão encontrar numa performance coral que busca na parte final do espetáculo, inspiração no Exército de Terracota de Qin Shi Huang. 

A peça foi estreada no Shanghai Oriental Art Center em 2018.


Ficha Artística/Técnica