Agenda Cultural

João Camões (n. 1983, Coimbra) tem conseguido, ao longo da última década, manter uma série de projetos colaborativos como a Nuova Camerata (com Carlos "Zíngaro”, Ulrich Mitzlaff, Miguel Leiria Pereira e Pedro Carneiro), Open Field String Trio (com Marcelo dos Reis e José Miguel Pereira), earnear (com Rodrigo Pinheiro e Miguel Mira). A sua estadia em Paris (2014-2016) rendeu-lhe um conjunto muito sólido de relações criativas. A mais produtiva delas foi estabelecida com o veterano Jean-Marc Foussat (n. 1955, Oran). 

Foussat iniciou a sua carreira enquanto guitarrista, mas rapidamente abraçou os sintetizadores e o trabalho de estúdio. A partir da década de 80 iniciou um trabalho importante de documentação da cena francesa da música improvisada, gravando inúmeros concertos que foram posteriormente editados em selos europeus como a Incus ou a Hat Hut. Já na década de 90, volta aos palcos com sintetizadores analógicos e desenvolve trabalho relevante com o ensemble Marteau Rouge (com Makoto Sato e Jean-Fraçois Pauvros). Em meados da década de 90 foi cofundador da Potlach (com Jacques Oger), editora que manteve em atividade até 2002. Na primeira década dos anos 2000, Foussat tocou com Trash The Flash, grupo da livre improvisação gaulesa, com o guitarrista Marc Duford, o trompetista Damien Dufourd, o clarinetista Jérôme Bourdellon e a voz de Lea Dufourd. Nesse período (a partir de 2005), Foussat começou a tocar em duo com Sylvain Guérineau, com quem gravou 3 discos, incluindo uma colaboração com o saxofonista norte-americano Joe McPhee. Mais próximo de nós, Foussat tem trabalhado com Augustin Brousseloux, no duo 5599 e com João Camões (em duo e trios com Claude Parle e Jean-Luc Capozzo).

Por intermédio de Foussat, João Camões pôde entrar em contacto com algumas figuras inconformáveis do jazz e da música improvisada francesa. Uma dessas figuras é, certamente, o trompetista Jean-Luc Capozzo (n. 1954, Belfort). Capozzo começou a tocar na orquestra da sua Belfort natal. A música clássica e o jazz entraram cedo na sua vida, embora também se tenha dedicado também, meses anos formativos, à música de raiz tradicional.

Um encontro com Dizzy Gillespie, em 1984, foi um ponto de viragem para Capozzo. Depois dessa ocasião, em que Gillespie convidou Capozzo para participar no seu concerto, o jazz passou a ter um papel central, não só como intérprete, mas também como professor (no final da década de 80, Capozzo tornou-se professor na Escola de Música de Lyon (CNSM). Capozzo fez parte de alguns grupos fundamentais da história mais ou menos recente do jazz gaulês. Foi membro do quinteto de Louis Sclavis "L’Affrontement des Prétendants” e dos ensembles de Claude Tchamitchian "Grand Lousadzak”, "Pentacle”, de Sophia Domancich, "Fragments et Suite Lyrique”, de Joelle Léandre. O seu trabalho em duo com Paul Jovens, Michel Godard e Umberto Petrin também é digno de registo.

Deste trio algo improvável, espera-se uma combinação de aspetos da música contemporânea, da música experimental e da livre improvisação com o peso da história do jazz.